*Carta de um vovô*
Belo Horizonte, 16/11/2018
Bebê, paz e bem!
Você ainda não me conhece tanto, mas, creio, já sente o meu amor. Quero registrá-lo nessa primeira cartinha que lhe escrevo. Poeta, o vovô é assim: vive de sonhar entre devaneios e divagações. Os poetas acreditam que a poesia dá forma ao sentimento e, desse modo, por meio dela, ousam perenizá-lo, torná-lo eterno.
Começo contando uma estória de família. Sua bisavó Augusta, vovó do seu papai Felipe, dizia que a visita de um beija-flor (um colibri) era prenúncio de boa notícia. Ela acreditava muito nisso e tal fé foi se fortalecendo em mim. Eu esperei muitos colibris e testemunhei tantas boas novas que vieram em seguida.
A sua vovó Claudete tratou logo de manter a tradição com o seu papai e a sua dindinha, a titia Débora, amor do padrinho Lucas. A sua vovó colocava florezinhas na janela para atrair a presença dos colibris. E ensinava a mesma lição de esperança aos filhinhos.
Ninguém soube até hoje, mas por você vou revelar o segredo: um dia, a bisa Augusta e eu, lá na roça de Muzambinho, vimos um beija-flor no lindo jardim de flores vermelhas que ela cuidava. Então, rezamos juntos para que fosse o prenúncio de uma notícia boa aos seus titios-avós Miguel e Rosilene, padrinhos do seu papai. E veio a boa nova do nascimento do Bernardo, seu primo de sangue e titio de coração. Titio sim, pois ele e seu papai são como irmãos desde criancinhas.
Dia desses seu papai repetiu o rito da vovó Claudete, aí onde você vai nascer, no Vale do Silício. Colocou uma florzinha na janela para atrair um beija-flor. E ele veio e anunciou uma boa nova: a sua vidinha em gestação que já é a sublime manifestação do amor de Deus por nós. A Graça do Mistério da Vida a nos renovar as esperanças e reanimar a nossa fé.
Estou aqui a esperá-lo, com um amor novinho, que eu jamais senti: amor de vovô, de papai duas vezes, realizado e feliz por ter alcançado educar – juntamente com a vovó Claudete – os filhos para o bem, para o amor de comunhão, para a verdadeira e duradoura felicidade. Amor que se pereniza nas estórias de família e atravessa gerações, numa experiência tênue do que possa ser a eternidade…
O bisa Galvão lhe manda um beijo. E já prepara as brincadeiras e mágicas que sempre fez com filhos, sobrinhos e netos. Mas, com você elas ganharão um tom renovado e peculiar. Afinal, serão as primeiras na dimensão da tripla paternidade, avô duas vezes.
E a bisa Vitória, tenho certeza, à atual maneira de seus pensamentos, já começou uma novena para São Geraldo, pedindo por você, por seu papai, por sua mamãe. Por sua saúde, por sua felicidade. Da fervorosa fé ela nunca se esquece. Como não se esquece do amor que nutriu pelo bisa Lino, razão maior que tinha para viver.
Dia desses almoçamos juntos aqui em casa para celebrar o dom da vida: vovô Geraldo e vovó Márcia, o bisa Galvão, vovó Claudete e eu. Viva a vida, de bem e de paz, com amor, fé e esperança!
Até breve, quando for hora de deixar a casinha encantada do ventre da mamãe Manu. Fique aí, por enquanto, crescendo feliz no quentinho do amor materno.
Para você, um poeminha:
-‘-
um colibri
beija a florzinha
nalgum dia…
bem diante de mim
é fecundo o amor
que prenuncia
de uma fadinha
e seu querubim
-‘-
Beijo de bênçãos
do vovô João.
(joão gimenez)
nos beijos das abelhinhas ah! priscas eras sonhavam as sementinhas suas primaveras -‘- nos beijos das abelhinhas joão gimenez 01/10/2021
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João Gimenez é escritor e poeta. Garimpeiro de palavras.
Tem três livros publicados. A completude do verso (2013 – Editora 3i), Versos Velados (2015 – Editora 3i) e O céu, a lua e as estrelas (2019 – Editora Aldrava, Letras e Artes).
Com O céu, a lua e as estrelas, João Gimenez foi premiado em 3o. lugar no Concurso Internacional de Literatura da UBE/RJ – União Brasileira de Escritores – Rio de Janeiro, na modalidade Aldravia, Prêmio Gabriel Bicalho.
É membro efetivo da ALACIB – Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – Mariana – MG e da SBPA – Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas.
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