“Poesia da Sexta” – CCLXXII
Carta do Vovô IV
Belo Horizonte, novembro de 2019
Ei Sarinha, minha boniteza
Esses seus retratinhos me inspiraram a mais uma cartinha…
Depois que você veio nos visitar, no início da primavera, meu coração bate de um jeito novo dentro do peito. Parece que ele voltou a ser uma criancinha alegre como você. Mais do que quando você nasceu.
Talvez porque, agora, você tenha despertado para este mundo através dos seus olhinhos, ouvidos, seu toque, sua boca, suas mãos. Seus sentidos. Sentidos tão ávidos por tocarem as coisas do mundo, através das sensações. Sensações que, neste seu momento, são a alegria mesma – em si – de viver e aprender, livre de razões. Tio Kant pensava coisas assim…
Saber e sabor são palavras parecidas e de mesma origem. Saber é sorver as maravilhas do mundo. Por isso que você tudo que vê quer por na boca, para apreender o gosto, degustar. Considero isso a coisa mais linda…
Escrevi certa vez para a Tia Maizé Trindade, uma amiguinha muito estimada do vovô que gosta de saber as coisas do mundo…
aprender
com ardor
e sorver
do saber
o
sabor
Vendo você nessa experiência tão instigante, a minha vida, que andava meio opaca, sem a vivacidade das cores belas do mundo, voltou a brilhar igualzinho a um céu estrelado de lua cheia. Quando o céu está assim, a gente olha para cima e perde o medo da escuridão. Porque a escuridão tenebrosa fica toda cravadinha de estrelinhas brilhantes que atraem o olhar da gente só para os pensamentos bons, aqueles que elevam o nosso coração para perto do Papai do Céu, bonzinho com a gente que só vendo…
Você tão pequeninha e já me ensina a aprender de novo. A sonhar um sonho bom. A esperar por novidades boas. A ver este mundo de um modo diferente, mais esperançoso das mudanças de que precisa para ser melhor.
Cada dia que passa aproxima mais o dia do nosso reencontro, Sarinha. E eu já lhe espero. Ansioso pelas novas lições que vamos aprender juntos. Qual será a nossa próxima transformação? Qual será?
Termino com mais um poeminha para você:
sob o céu
do teu olhar
uma
fadinha
a encantar
sob o céu
do teu olhar
sonho
o sonho
de sonhar
sob o céu
do teu olhar
faz
sentido
acordar
Beijinhos do vovô poeta. Papai do Céu lhe abençoe.
(João Gimenez)
-‘-
Para Bernadete Monteiro que, dia desses, me disse que se emociona com as cartas do vovô.
aldravia de domingo – 276 joão gimenez – 23/04/2023 sinal sina tempo chronos kairós invento
Justo assim à revelia Vem o fim e se abrevia. […] Ao Pai, toda fidelidade! Fé, esperança e amor. Um […]
Sobre cigarras… a cigarra não vive pra trabalhar nem trabalha pra viver ela nasce pra cantar e canta até morrer […]
João Gimenez é escritor e poeta. Garimpeiro de palavras.
Tem três livros publicados. A completude do verso (2013 – Editora 3i), Versos Velados (2015 – Editora 3i) e O céu, a lua e as estrelas (2019 – Editora Aldrava, Letras e Artes).
Com O céu, a lua e as estrelas, João Gimenez foi premiado em 3o. lugar no Concurso Internacional de Literatura da UBE/RJ – União Brasileira de Escritores – Rio de Janeiro, na modalidade Aldravia, Prêmio Gabriel Bicalho.
É membro efetivo da ALACIB – Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – Mariana – MG e da SBPA – Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas.
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