Carta do Vovô VIII
Belo Horizonte, 20 de maio de 2020
Sarinha, minha netinha linda
Quando me fixo em seu olhar, neste um aninho de vida que se completa, faço uma bela e gostosa viagem ao interior do meu interior, como cantou Vander Lee. Viajo de volta à casinha que guardo preservada em mim. Onde mora o melhor dos meus sonhos e das minhas esperanças.
As expressões do seu olhar são o resgate, em minha alma, de tantas boas experiências já vividas. Como se elas voltassem infantes, plenas da mais sonhada felicidade.
Seus olhinhos expressivos me revelam três alegrias. A alegria da descoberta. A alegria do amor. A alegria da plenitude.
Como é alegre o seu olhar de descoberta. Desperta o saber. Revela a busca do novo, do desconhecido, do que ainda não se domina. Na esperança de que uma experiência inédita sempre vale.
Vale tentar andar e cair. Vale ralar os joelhos. Vale pegar, por na boca e conhecer o gosto. Bom ou ruim, doce ou amargo, suave ou ácido. Vale tocar as coisas deste mundo com as mãos e os sentidos. Vale balbuciar as primeiras palavras. Vale tentar o que funciona melhor nas primeiras relações com a mamãe e o papai. Vale tentar o sorriso e o choro. Uma gargalhada, uma birra. Um silêncio. Vale descobrir, sempre, apesar dos riscos…
E que bênção é esse seu olhar cercado do amor mais puro e mais intenso! Amor que vigora na sua casinha, entre você, a mamãe e o papai. Lar, doce lar. Lar: Lugar do Amor Real. Eu sinto isso profundamente pela lida carinhosa – e plena de serenidade – que a mamãe e o papai dedicam a você. E sinto, também, a forma doce e grata com que você retribui a eles.
Uma vida de amor em família é assim. O amor de um alimenta o amor do outro. E o amor de todos é revelado na felicidade de cada um. Ubuntu: eu sou no que somos todos nós.
Que bom seria se mais famílias aqui na Terra imitassem melhor a grande família do Papai do Céu. Todas as criaturas reunidas pela graça do amor. Graça de gratuidade. Amor que ama ser bom apenas, sem esperar recompensa. Amor de compaixão.
E a plenitude desse seu olhar?! Encanta-me. Devolve-me ao reino das esperanças. Como é lindo esse seu olhar. Sarinha plena! Segura do belo que a vida haverá de ser.
Para mim, a plenitude da inocência infante é a mais reveladora gratuidade do amor do Papai do Céu pelas criancinhas. Lamentavelmente, humanos maus roubam a inocência da infância, por vezes até muito cedo, nas formas de maus tratos, violência, injustiça, indiferença, miséria, preconceito, perseguição. Por isso, como são importantes duas coisas. Agradecer ao Papai do Céu pela vida de amor de que fomos agraciados e cuidar para que a toda criatura, ao menos por nossas atitudes, seja garantida a dignidade de viver no mesmo amor em que vivemos.
Sei que as três alegrias que noto em seu olhar hoje estão protegidas pela sua infante inocência. E rezo que assim seja por muito tempo. E que para os momentos vários das etapas da grande aventura que é o viver, você seja capaz de preservar na casinha do interior do seu interior – ali só para você, intimamente guardadas – as sementinhas da fé, do amor e da esperança no novo, no bom e no belo. Elas haverão de lhe fortalecer nas tantas jornadas que virão. Assim seja, na paz e no bem que vêm do Papai do Céu.
Termino com mais uma trovinha. Esta completa o ciclo de doze poeminhas que escrevi durante seu primeiro aninho de vida…
Sarinha! Um aninho.
Meu colibri cantador.
Plenitude no ninho:
descoberta do amor.
Feliz e abençoado aniversário minha princesinha.
Beijinho do vovô poeta
-‘-
Texto: João Gimenez
Fotos: Manu Gomes e Felipe Gomes
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João Gimenez é escritor e poeta. Garimpeiro de palavras.
Tem três livros publicados. A completude do verso (2013 – Editora 3i), Versos Velados (2015 – Editora 3i) e O céu, a lua e as estrelas (2019 – Editora Aldrava, Letras e Artes).
Com O céu, a lua e as estrelas, João Gimenez foi premiado em 3o. lugar no Concurso Internacional de Literatura da UBE/RJ – União Brasileira de Escritores – Rio de Janeiro, na modalidade Aldravia, Prêmio Gabriel Bicalho.
É membro efetivo da ALACIB – Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – Mariana – MG e da SBPA – Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas.
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