04 de julho de 2022Categoria: Memórias

O milagre dos ipês

florir é
eternizar

cremos

mas não
vemos…

“Da janela lateral do quarto de dormir” avistei um ipê desnudo de folhas, era só galha seca. Descuido o olhar e ele me surpreende com suas flores amarelas, vestes tão belas. A florada dos ipês parece milagre e ninguém vê no exato momento em que acontece. Quisera perder para sempre as minhas agendas que conflitam desejo e dever. Desejo de ser feliz e dever de corresponder às expectativas deste mundo.

Assim, ficaria em vigília sob as galhas de um ipê. E, fitando meus olhos, esperaria o tempo que fosse até que suas flores surgissem das galhas secas, de onde parece impossível nascer algo tão belo. Movido apenas pelo desejo de me entregar ao fugaz encanto da existência, contemplativo, em absoluto estado de êxtase, quando ‘chronos’ beija ‘kairós’. Isso é ser feliz!

ipês
amarelos
urge
vê-los
tão
belos

Na aridez do inverno, hiberna o prenúncio da primavera. São as galhas secas do ipê.
Aparentemente inúteis aos olhos do mundo surpreendem e ficam grávidas da beleza. O ipê primeiro parece que morre antes de belo renascer… O milagre da ressurreição…

folhas
secas

sob
os pés

até
virem

os
ipês

Mestres naturais que ensinam lições fugazes de espera e crença em dias melhores, mais belos…

bastou
que fosse

sequidão
e aridez

para vir
doce

a lição
dos ipês

nada
impere

seco
ou triste

que não
espere

o belo
existe

joão gimenez
14/08/2018

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Sobre o autor

João Gimenez é escritor e poeta. Garimpeiro de palavras.

Tem três livros publicados. A completude do verso (2013 – Editora 3i), Versos Velados (2015 – Editora 3i) e O céu, a lua e as estrelas (2019 – Editora Aldrava, Letras e Artes).

Com O céu, a lua e as estrelas, João Gimenez foi premiado em 3o. lugar no Concurso Internacional de Literatura da UBE/RJ – União Brasileira de Escritores – Rio de Janeiro, na modalidade Aldravia, Prêmio Gabriel Bicalho.

É membro efetivo da ALACIB – Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – Mariana – MG e da SBPA – Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas.

Contatos com o autor: