Carta do Vovô IX
Belo Horizonte, 12/10/2020
Ei Sarinha, minha boniteza
Hoje é um dia especial no Brasil. Marca o encontro da pureza da Mamãe Maria do Céu – sob o título de Aparecida – com a inocência infante do amor de criança.
A Mamãe do Céu é o instrumento por excelência de proximidade do Criador com as suas criaturas amadas. Gerou em seu ventre puro e sagrado a maior proximidade possível de Deus feito homem, no mistério da encarnação. Você ainda é muito novinha para entender o que escrevo aqui. Mas, faça como Maria… Que tudo guarda no silêncio do seu coração. E Deus revelará.
Proximidade e Encontro são as palavras que escolhi como tema da cartinha de hoje. Meu coração de vovô ama tanto você que clama por sua proximidade física e de alma. O encontro é o triunfo da proximidade sobre a distância. Do amor sobre a saudade. Do frescor sobre a dor.
Vivemos em países diferentes. Se aqui chove, aí faz sol. Se aqui esquenta, aí esfria. Se aqui é primavera, aí é outono. E assim vão sendo os nossos intervalos entre a proximidade e a distância, marcados por uma vontade imensa da parte do meu coração em ser só encontro com você.
A tecnologia, de certo modo, nos ajuda. Mas, o contato nosso pela telinha carece de boas pitadas do sal da realidade em si, pela conexão dos sentidos. Do toque, da fala, da escuta, do cheiro, do gosto.
Neste seu segundo Dia das Crianças adoraria levá-la para passear no parque e em tantos outros lugares, na mais pura e essencial condição de vovô. Curtir nossa convivência em profundidade contemplativa. Como o maior prêmio a alguém que buscou nesta vida ser melhor e amar melhor a cada dia, apesar de tantas imperfeições e erros. Uma forma de compensar e rever em você, os tantos dias das crianças que deixei a desejar nas expectativas dos meus filhos. Os idosos, já no ingresso da fase crepuscular da existência, só têm aos netos e às netas – de sangue ou de coração – para revisarem suas atitudes e ainda buscarem ser pessoas melhores, mais leves, mais sensíveis, mais amáveis.
Mas a distância – hoje – supera a proximidade e impede o encontro real. No entanto, não é – e nunca será – capaz de eliminar nossas conexões que se dão em outras frequências mais elevadas, pelas vias do amor, da afeição espiritual, da esperança e da fé.
Eucaristia é proximidade e encontro. Assim como Jesus nos concedeu o mistério eucarístico para nos garantir sua eterna proximidade conosco, vinda, na perspectiva histórica, por seu nascimento do ventre puro e sagrado de Nossa Senhora, a mamãe carinhosa do céu, assim também desejo que seja conosco. Que nossas conexões afetivas permaneçam para sempre e superem as distâncias, as lonjuras desta vida.
Permaneço aqui a lhe esperar nestas Alterosas. Desejando que todos os dias do nosso próximo encontro sejam dias de (ser) criança, sob a proteção de Nossa Senhora Aparecida, a mamãe do céu que tanto nos ama. A senhora da proximidade e do encontro. Do coração de Deus com o coração das pessoas.
Hoje meu poeminha para você é este:
berro o verso
pelo encontro
: constância
ao avesso
e ao reverso
da distância
Feliz Dia das Crianças.
Beijo do vovô poeta.
(João Gimenez)
Foto/Arte: Claudete Gimenez
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João Gimenez é escritor e poeta. Garimpeiro de palavras.
Tem três livros publicados. A completude do verso (2013 – Editora 3i), Versos Velados (2015 – Editora 3i) e O céu, a lua e as estrelas (2019 – Editora Aldrava, Letras e Artes).
Com O céu, a lua e as estrelas, João Gimenez foi premiado em 3o. lugar no Concurso Internacional de Literatura da UBE/RJ – União Brasileira de Escritores – Rio de Janeiro, na modalidade Aldravia, Prêmio Gabriel Bicalho.
É membro efetivo da ALACIB – Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – Mariana – MG e da SBPA – Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas.
Contatos com o autor: