“Poesia da Sexta” – CCLXXVIII
Carta do Vovô V
Belo Horizonte, 17 de dezembro de 2019
Ei Sarinha, minha boniteza!
Você já está dormindo – bem pertinho de mim – e mesmo assim mantenho o costume de lhe escrever. Para que meu sentimento fique gravado para a posteridade. Poetas escrevem por isso.
Hoje foi um dia mágico. Desses que guardamos como especiais em nossas vidas. Sete anos do falecimento da bisa Augusta e sua primeira visita ao bisa Galvão, na casa em que ele vive e onde passou vários anos cuidando dela. Você ainda não entende, mas a bisa ficou irreversivelmente dodói por muito tempo e teve, na dedicação do bisa Galvão, tudo de que precisou para viver seus últimos anos com dignidade, cercada do amor pleno, na sua forma mais bela e generosa: o amor de cuidado. Tipo o amor que sua mamãe Manu e seu papai Felipe nutrem e dedicam a você, nesta vida cheia de plenitude que está apenas começando. Tipo o amor que a vovó Claudete dedica à bisa Vitória, superando todas as dificuldades, as tristezas, os medos, a dor, o cansaço e a desesperança, ante a inevitável fragilidade da vida no limiar de seu último ciclo.
Verdade, o amor e a vida se repetem sim, sempre, mas de forma caprichosa, inusitada. Explico. Na mesma sala em que você ensaiou seus primeiros passinhos hoje, com o incentivo do papai Felipe e o apoio seguro da mamãe Manu, eu vi, há varios anos atrás, o vovô bisa Galvão – num gesto igual ao de seus pais com você – incentivando e apoiando a vovó bisa Augusta a reaprender seus novos primeiros passos, após ter caído e se machucado. O vovô bisa, abraçado a ela, num gesto incansável de amor e generosidade, emprestava seus passos firmes ao caminhar trôpego, inseguro, claudicante de minha mamãe e sua vovó bisa.
Nos seus pequenos e breves primeiros passos, Sarinha, eu percebi que aqueles esforços do bisa não foram em vão. Apesar da bisa Augusta não ter alcançado voltar a andar em vida, hoje ela alcançou caminhar, agora em espírito, com as suas perninhas, curiosamente no mesmo local em que ela e o bisa tentavam diuturnamente, há tantos anos. E o bisa viveu uma alegria em sua presença que há muito tempo não vivia. Você trouxe vida, amor e plenitude a ele.
Sete anos da morte da bisa Augusta. Sete meses da sua vida, Sarinha. O número sete, para os nossos irmãozinhos judeus, simboliza a plenitude… assim na Terra como no Céu. Plenitude naTerra pelos quatro elementos de sua constituição no Cosmo: fogo, água, terra e ar. E plenitude no Céu, pela entidade divina trinitária do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
A plenitude é uma sensação que não se mede e nem se explica. Acontece diante de nós em epifanias singelas como esta. A plenitude é uma face da eternidade.
Como foi bom viver essa experiência de Deus em nossas vidas hoje! Vamos agradecer à mamãe Manu e à vovó Claudete por essa ideia generosa em programar uma visita surpresa ao bisa Galvão. Uma noite de alegria em plenitude no Céu e na Terra, pela sua graça e seu coraçãozinho infante e alegre, cheios do Espírito Santo que desceu sobre você pelo Sacramento do Batismo, no último dia 15.
Encerro com mais um poeminha, na plenitude da Graça de Deus Uno e Trino, nosso generoso Papai do Céu:
Sarinha no mês sete;
mais um mesversário.
A plenitude trouxeste.
Presépio no Sacrário!
Como é bom ter você pertinho de mim. Fico uma pessoa melhor.
Beijinho do vovô João.
-‘-
João Gimenez
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João Gimenez é escritor e poeta. Garimpeiro de palavras.
Tem três livros publicados. A completude do verso (2013 – Editora 3i), Versos Velados (2015 – Editora 3i) e O céu, a lua e as estrelas (2019 – Editora Aldrava, Letras e Artes).
Com O céu, a lua e as estrelas, João Gimenez foi premiado em 3o. lugar no Concurso Internacional de Literatura da UBE/RJ – União Brasileira de Escritores – Rio de Janeiro, na modalidade Aldravia, Prêmio Gabriel Bicalho.
É membro efetivo da ALACIB – Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil – Mariana – MG e da SBPA – Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas.
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